A Verdade Que Funciona

Saudações prezados irmãos de fé, aqui estou eu novamente, para expor um pouco sobre as ideias da fé.

Lendo alguns livros, assistindo a algumas reportagens, somos levados a crer em milagres, em curas fantásticas, em obras que a ciência não consegue descrever com exatidão, seja cirurgias espirituais, auto cura do câncer, muito elucidada nos livros de Deepak Chopra, principalmente, a Cura Quântica, podemos presenciar no Globo Repórter muitos feitos, um grande amigo meu, um irmão, Fabio que foi curado de uma leucemia com baixa probabilidade de cura, para aqueles que buscam a espiritualidade, somos bombardeados por informações incontestáveis sobre o poder da cura através da fé, através da imposição de mãos, através das orações, através do reiki, mahikari, ayurveda, cromoterapia, pregações e assim por diante.

Eu muitas vezes, posso ser criticado aqui, mas ouço muito algumas rádios evangélica, com isso, aprendo e estudo como eles conseguem influenciar o povo, outro dia eu ouvi em uma rádio:

“Você irmã, que está com problemas nas articulações da perna, você que sente esse formigamento nos pés, Deus está falando comigo, você terá a sua cura irmã, você terá a sua cura, oraremos por você que Deus está agindo sobre você, por favor, deposite na conta (Dada as informações da conta) qualquer quantia para ajudar o missionário a te ajudar, você ficará livre essa angústia irmã, dessa tribulação, porque Cristo falou comigo”.

Para qualquer pessoa com o mínimo de senso crítico, para não dizer inteligência, consegue perceber que a probabilidade de ALGUÉM estar ouvindo isso e estar com esses sintomas é GRANDE, senão existe nenhum ouvinte que apresente esses sintomas, outros podem se compadecer da dor e fazer o depósito, mesmo não tendo a certeza que existe algum ouvinte com esse sintoma. E ainda vou mais longe, tenho uma experiência muito próxima de uma pessoa que estava com os sintomas apresentados na rádio, depositou R$ 50,00 e depois de uma semana, disse estar curada.

São circunstâncias como a supracitada que movimentam o mercado da Fé, segundo pesquisas, o mercado da fé, o televangelho, movimentou quase R$ 30mi somente no ano passado, mas e aí, onde eu quero chegar com tudo isso?

Eu sinceramente, não acho que A Consciência Universal (Deus), se contente com nossas mazelas, nos imprime tais provações por vontade própria, eu como pai de dois filhos, é inconcebível pra mim que um Pai, um Criador, faça com que nos prostremos às dores, ao sofrimento, recuso-me a crer que nosso Criador, seja um Deus de punição, de cólera, e que necessita de um intermediário que interceda por nós para que conseguimos algo que precisamos, nego-me a crer até o último suspiro de vida. Sim, não creio que nascemos incompletos, necessitando de outro ser constituído de pecados para que nos ajude.

Infelizmente, como vivo dizendo aqui, nossa baixa autoestima, nossa falta de confiança faz com que busquemos ídolos, e qualquer um que se apresente da maneira correta ou que fale o que queremos ouvir, já depositamos ali o foco de nossas esperanças, não estou dizendo que isso é algo ruim, afinal, todos nós precisamos de amuletos, seja materiais ou espirituais, precisamos de algo para centralizar o nosso caminho, nos dar o norte, nos dar a referência e é justamente nesse momento de carência, de angústia e desespero, estamos suscetíveis à falácia dos boçais, aqueles que se acham os verdadeiros mensageiros do astral, e é aí que mora o perigo.

Desde a Antiguidade, somos forçados a imposições, quantas vezes fomos submetidos à própria Igreja? A Bíblia que desde a Antiguidade se fazia a mais aboluta lei do Ocidente? Deus, em um momento de cólera, decidiu punir Lucifer, o portador de Luz, o melhor de seus anjos para as trevas, para o inferno para que o mesmo aprendesse a não contariar as Leis de Deus. Para isso, faço apenas duas reflexões:

  1. Quem aqui tem filho e teria coragem de punir eternamente seu filho? Sentimento de Vingança? Cólera? Para alguém que segundo a bíblia só ensina o amor?
  2. Porque não interpretarmos que Deus mandou o seu melhor anjo, aquele que porta a luz para o inferno, que na verdade vem de ínferos, que seria plano inferior, para nos auxiliar? Se não foi um ato de amor Deus enviar o seu “mais amado” filho para trazer a luz? A compreensão para nós, seres da Terra? Vale a reflexão, o inferno pode ser aqui!

Mas como não sou teólogo, segue o jogo…

Em todas as religiões presenciamos milagres, em todas as doutrinas, até mesmo nas Escolas Iniciáticas aprendemos muitas coisas, e a única relação que eu vejo entre todas elas como resultado de operação de milagres é a Consciência. Seja ela Objetiva, Universal, Subjetiva, tudo oscila em torno da Consciência, seja quando despertamos para o nosso Eu Divino, seja quando acreditamos com plena convicção naquilo que queremos.

Por isso, para todos aqueles que recorrem a mim através de e-mails, me perguntam porque fulano usou 4000 velas para um trabalho e funcionou e o outro fulano usou água e incenso e funcionou também, e porque com essa pessoa não funciona nada? Simples: Você realmente quer o que você está pedindo? Qual a energia que está colocando nisso? Está pedindo por pedir ou tem convicção e certeza do que quer?

Para alguns, a oferenda é primordial para obtenção de qualquer graça, para outros, pular sete ondas, para outros, pendurar 5000 fitinhas do senhor do Bomfim no braço, para outros o jejum, para outros o acendimento de incenso, para outros, a meditação e o único elemento que se relaciona com tudo isso, é você!

Alguns terão mais facilidade na oração, outros na meditação, isso vai depender única e exclusivamente de sua AFINIDADE, da qual está correlacionada às suas experiências anteriores, escolas passadas, grau de vibração da qual você participa, isso não significa que você seja incapaz, apenas terá mais dificuldade que outros, e outras vezes, mais facilidade que outros, procure aquilo que te faz bem, como eu vivo ressaltando no blog, a religião é para nos trazer paz, conforto, se está em um centro que só passa nervoso, em uma igreja que te incomode, mude, Deus não o punirá por isso e nem tampouco os Orixás, eles já possuem luz o suficiente para nos compreender, nessa escola, eles são os mestres e somos os alunos, eles são as estrelas e nós os navegantes, e ao invés de ficar na busca incessante sobre o que é certo ou errado, porque certo ou errado é apenas ponto de vista, procure aquilo que você se sente bem em fazer, é incorporar? É cambonar? É tocar um atabaque? É participar de uma missa? Um culto? Uma mesa? Já dizia um dos evangelhos apócrifos, o evangelho de Tomé encontrado em Nag Hammadi e negado pela igreja:

“O reino de Deus está dentro de ti e a tua volta; não em palácios de pedra ou madeiras. Rache uma lasca de madeira e Eu estarei lá; Levante uma pedra e Me encontrarás…”

Portanto, a sua Verdade é muito melhor que a minha Verdade, no fundo, você não precisa de ninguém, apenas de poucas referências, fomos feitos à Sua Imagem e Semelhança para sermos autossuficientes, um pastor ou um babá não é e nunca serão melhores que você.

O que vai fazer toda a diferença na sua vida, é aquilo que você crê de todo o Coração, essa é a Verdade que Funciona, que vai te prosperar, te curar, te ensinar. Essa Verdade é aquela que a Consciência Universal imprimiu no seu íntimo no momento em que você mais precisar se conectar com Deus! Somente isso.

Uma vez um mentor me disse: Se confiassem mais em vocês, não precisaríamos mais de médiuns, e ele ressalta, médiuns não são somente aqueles que estão nos terreiros ou centros kardecistas, muitos professam outras religiões com o dom da Palavra.

A Fé nada mais é que sua Força de Vontade dizendo a tudo à sua Volta o que você mais deseja, e como dizia Hermes na Lei da Correspondência:

“O que está em cima é como o que está embaixo. E o que está embaixo é como o que está em cima”.

Sua mente é capaz de mudar tudo à sua volta, a sua fé, é sua força de Vontade, é a Energia Divina da qual você é munido de transformar tudo aquilo que você acredita, e não é palestra motivacional e nem tampouco coaching, é experiência própria e conhecimento de causa, acredite, empregue a Energia Divina, quebre seu carma com força, determinação e foco.

Sua intuição é o seu melhor professor, desenvolva-a, escute-a, siga-a e realize tudo o que você propôs a você!

Neófito da Luz .’.

João de Deus não faz milagre nenhum

Em 25 de outubro desse ano, um programa de televisão australiano chamado “60 Minutos” (em tradução livre) contou a história da cética investigação que a jornalista Liz Hayes fez sobre o enigmático João Teixeira de Faria, mais conhecido como “João de Deus”, em 1998.

O brasileiro ficou internacionalmente conhecido depois de ser promovido por ninguém menos que a apresentadora norte-americana Oprah Winfrey, uma das mais famosas do mundo, como um médium que canalizava os espíritos de médicos mortos e os usava para realizar curas milagrosas em pessoas das mais diversas nacionalidades que o visitavam em sua “Casa”, em Abadiânia, Goiás.

Aqui está um resumo do que foi revelado nesta investigação, embora o título desse artigo já dê uma boa dica do que você vai encontrar aqui pela frente.

Parte 1 do caso João de Deus

Na parte 1 da reportagem, o repórter Michael Usher revelou que uma mulher declarada como curada de um câncer de mama por uma entidade espiritual canalizada por João de Deus morreu em 2003. Uma outra mulher em uma cadeira de rodas com esclerose múltipla que, na pesquisa de Hayes realizada em 1998, visitou João com a expectativa de andar novamente, disse não ter sentido qualquer efeito do “tratamento” e obviamente ainda está em uma cadeira de rodas. Na verdade, sua condição até piorou. Mas se você é desses que diz “não custava nada tentar”, bem, você está enganado. Essa brincadeira de sair lá da Austrália para vir até o “consultório” de João de Deus saiu por 5 mil dólares australianos. Algo que ultrapassa tranquilamente os 10 mil reais. A matéria de Usher também conta que nenhum dos outros australianos (que vieram em um grupo de 40 pessoas) sentiram qualquer melhora após a consulta.

O relatório do jornalista Usher também mencionou que alguns dos milhares de pacientes de João também esperavam receber uma tal de “cirurgia espiritual” com ele, 3 vezes na semana. Essas práticas, tais como a inserção de tesouras (ou pinças) de profundidade em um nariz, e raspar um olho sem anestesia, foram registradas em histórias anteriores sobre João. Parece cruel, não? João também foi mostrado diversas vezes fazendo várias incisões na pele de seus “pacientes” sem demonstrar o menor respeito por procedimentos anestésicos ou de esterilização de materiais.

Para o médico David Rosengren, “o mundo da medicina moderna não pode tolerar esse comportamento de forma alguma”. Fácil de concordar com ele, não? Até porque um procedimento como esse pode custar bem mais caro – se a gente partir do pressuposto que uma vida vale bem mais de 5 mil dólares.

No decorrer da matéria, Usher esclarece a questão dos valores cobrados

A consulta com o João de Deus era gratuita, mas muitas vezes ele prescrevia visitas a uns leitos de cristal [que contavam com luzes coloridas brilhando sobre eles], que custavam US$ 25 por sessão. Isso gerava uma receita de aproximadamente 1.8 milhão de dólares por ano. Nada mal. Havia também a “água abençoada”, que custava cerca de um dólar por garrafa. O consultório também contava com uma loja de presentes e uma farmácia, que vendia pílulas abençoadas de ervas (apenas disponíveis sob prescrição João de Deus, aparentemente). Uma caixa saía por US$ 25, o que garantia uma receita de US$ 40.000 POR DIA. Isso significava mais de US$ 14 milhões por ano (R$ 36,15 mi no câmbio atual).

Usher ressalta que foi comprovado que as pílulas não eram nada além de maracujá.

De acordo com o Natural Medicines Comprehensive Database (banco de dados de medicina natural, em tradução livre), o maracujá é “possivelmente seguro quando usado por via oral e de forma adequada para fins medicinais de curto prazo”, e também é “possivelmente perigoso quando utilizado em quantidades excessivas” e não deve absolutamente ser usado durante a gravidez, já que “constituintes de maracujazeiro mostram evidências de estimulação uterina”, o que poderia provocar um aborto.

Esse mesmo banco de dados sugere que o composto em questão é possivelmente eficaz para transtornos de humor, ansiedade e abstinência de opiáceos, mas “pode causar tonturas, confusão, sedação e ataxia” e há alguns relatos de efeitos colaterais mais graves, incluindo vasculite e consciência alterada. Ou seja: requer um certo cuidado ao ser prescrito.

Parte 2 do caso João de Deus

Na Parte 2 da matéria, Usher afirmou que houve duas mortes nos últimos anos na “Casa” que justificam as investigações, mas ninguém sequer foi acusado.

Ele também informou que, em 2010, quando João visitou Sedona, no Arizona (Estados Unidos), o departamento de polícia o investigou porque uma mulher disse que ele pegou as mãos dela e as colocou em seus órgãos genitais; João também teria tentado colocar a mão embaixo da saia dela. O caso nunca foi ao tribunal; um de seus associados incentivou a mulher a desfazer as acusações. Sabe-se lá que incentivos foram esses.

O que João tem a dizer em sua própria defesa?

O jornalista australiano tentou entrevistar João, mas ele acabou ficando muito irritado depois que Usher perguntou se João se interessava mais pelo dinheiro do que pelos milagres e se ele já havia agredido sexualmente algum de seus pacientes. A matéria mostra que João foi embora, respondeu sarcasticamente para o intérprete e depois voltou para a entrevista insistindo para ver o que havia sido gravado. Suspeito.

Mas isso não foi tudo.

Em 10 de fevereiro de 2005, foi ao ar no horário nobre da televisão norte-americana uma entrevista muito mais cordial de João de Deus, conduzida pelo repórter John Quiñones, que também entrevistou o milagreiro Oz e o médico James Randi. Nessa ocasião, Oz falou de uma “técnica” que envolvia colocar uma pinça no nariz das pessoas para ver se isso teria alguma influência sob medicamentos tomados.

Essa especulação obviamente não faz sentido anatômico, mas os telespectadores não tiveram acesso a essa informação esclarecida pelo Dr. Randi, porque o horário nobre escolheu colocar no ar apenas os 19 segundos em que o médico protestou contra João de Deus, declarando-o um charlatão.

Embora Quiñones seja um jornalista premiado, o saldo dessa entrevista acabou sendo um desserviço aos seus telespectadores, por não explorar os dois lados da história.

Conclusão

Ao relatar João Teixeira de Faria, Oprah e Quiñones selecionaram informações para incentivar o pensamento positivo de que Deus e os espíritos usam um homem sem instrução como um canal para a cura sobrenatural.

Em contraste, tanto o levantamento realizado em 1998 quanto o de 2014 por parte do australiano foram baseados em um ceticismo saudável e permitiu os espectadores compreendessem os méritos de pontos de vista contrastantes. Em seu relatório, Michael Usher reconheceu o valor da esperança, mas também observou que ela pode ser uma fraqueza, transformando as pessoas em presas fáceis e vulneráveis para o pior tipo de seres humanos.

João de Deus é um homem que afirma fazer milagres e curar os doentes. Ele se chama João de Deus, mas não há nada de divino nele. Milhares de pessoas o procuram na esperança de uma cura para a sua dor, mas acabam sendo esfolados na hora de pagar a conta. Ele se vende como a suposta cura de Deus, mas não o faz de bom grado. Muito pelo contrário. Ele é um homem de negócios parcimonioso que ganha dezenas de milhões de dólares com a fé e o desespero alheio. Posso estar enganada, mas não vejo nada de nobre nisso. [Randi, RD]

 

 

 

Extraído: http://hypescience.com/joao-de-deus-nao-faz-milagre-nenhum-descubra-aqui-o-porque/

 

A Religião e o Progresso

Hoje geralmente se pensa que a Igreja admite o fogo do inferno como um fogo moral e não como um fogo material. Tal é, pelo menos, a opinião da maioria dos teólogos e de muitos eclesiásticos esclarecidos. Contudo, é apenas uma opinião individual, e não uma crença adquirida pela ortodoxia, pois, do contrário, seria universalmente professada. Pode-se julgar pelo seguinte quadro, que um pregador traçou do inferno, durante a última quaresma, em Montreuil-sur-Mer:

“O fogo do inferno é milhões de vezes mais intenso que o da Terra, e se um dos corpos que ali queimam sem se consumir viesse a ser lançado no nosso planeta, empestá-lo-ia de ponta a ponta!”

“O inferno é uma vasta e sombria caverna, guarnecida de pregos pontiagudos, de lâminas de espadas afiadas, de navalhas bem cortantes, na qual são precipitadas as almas dos danados!”

Seria supérfluo refutar esta descrição; no entanto, poderíamos perguntar ao orador onde colheu um conhecimento tão preciso do lugar que descreve. Por certo não foi no Evangelho, onde não se trata de pregos, nem de espadas, nem de navalhas. Para saber se essas lâminas são bem afiadas e bem cortantes, é preciso tê-las visto e experimentado. Será que, novo Enéas ou Orfeu, ele próprio teria descido a essa caverna sombria que, aliás, muito se assemelha ao Tártaro dos pagãos? Além disso, ele deveria ter explicado a ação que pregos e navalhas poderiam ter sobre as almas e a necessidade de serem bem afiados e de boa têmpera. Já que conhece tão bem os detalhes interiores do local, também deveria ter dito onde está situado. Não é no centro da Terra, pois supõe a hipótese de um dos corpos que ela encerra ter sido lançado em nosso planeta. Então é no espaço? Mas a astronomia aí fixou o seu olhar muito antes, sem nada descobrir. É verdade que não olhou com os olhos da fé.

Seja como for, o quadro é feito para seduzir os incrédulos? É bastante duvidoso, pois é mais adequado para diminuir o número de crentes.

Em contrapartida, citaremos o seguinte trecho de uma carta escrita de Riom, e relatada no jornal Vérité, em seu número de 20 de março de 1864:

“Ontem, para minha grande surpresa e satisfação, ouvi com os próprios ouvidos esta serena confissão da boca de um eloqüente pregador, em presença de numeroso e atônito auditório: Não há mais inferno… o inferno não existe mais… foi substituído admiravelmente pelos fogos da caridade e do amor, que resgatam as nossas faltas!”

“Nossa divina doutrina (o Espiritismo) não está encerrada inteiramente nestas poucas palavras?”

É inútil dizer qual dos dois teve mais simpatias do auditório; mas o segundo poderia até ser acusado de heresia pelo primeiro. Outrora teria expiado, infalivelmente, na fogueira ou numa masmorra a audácia de haver proclamado que Deus não manda queimar suas criaturas.

Esta dupla citação nos sugere as seguintes reflexões:

Se uns acreditam na materialidade das penas, enquanto outros a negam, necessariamente uns laboram em erro e outros têm razão.

Este ponto é mais capital do que parece à primeira vista, porque é o caminho aberto às interpretações numa religião fundada na unidade absoluta da crença e que, em princípio, repele a interpretação.

É bem certo que até hoje a materialidade das penas tem participado das crenças dogmáticas da Igreja. Por que, então, nem todos os teólogos lhe dão crédito? Como nem uns, nem outros o verificaram por si mesmos, o que leva alguns a ver apenas uma imagem onde outros vêem a realidade, senão a razão que, nos primeiros, supera a fé cega? Ora, a razão é o livre-exame.

Eis, pois, a razão e o livre-exame entrando na Igreja pela força da opinião.
Poder-se-ia dizer, sem metáfora, pela porta do inferno; é a mão posta no santuário dos dogmas, não pelos leigos, mas pelo próprio clero.

Não se julgue esta uma questão de menor importância, pois contém em si o germe de toda uma revolução religiosa e de um imenso cisma, muito mais radical que o protestantismo, porque não ameaça somente o catolicismo, mas o protestantismo, a Igreja grega e todas as seitas cristãs. Com efeito, entre a materialidade das penas e as penas puramente morais, há toda a distância do sentido próprio ao sentido figurado, da alegoria à realidade. Desde que se admitam as chamas do inferno como alegoria, torna-se evidente que as palavras de Jesus: “Ide ao fogo eterno” têm um sentido alegórico. Daí a conseqüência de que o mesmo deve acontecer com outras de suas palavras.

Mas a conseqüência mais grave é esta: Uma vez que se admita a interpretação sobre um ponto, não há motivo para a rejeitar sobre outros; é, pois, como dissemos, a porta aberta à livre discussão, um golpe mortal desferido no princípio absoluto da fé cega. A crença na materialidade das penas liga-se intimamente a outros artigos de fé, que lhe são corolários; transformada essa crença, as outras se transformarão pela força das coisas e, assim, gradualmente.

Já temos uma aplicação disto. Há poucos anos ainda, o dogma: Fora da Igreja não há salvação, estava em toda a sua força; o batismo era condição tão imperiosa, que bastava que o filho de um herético o recebesse clandestinamente e à revelia dos pais, para ser salvo, porquanto tudo que não fosse rigorosamente ortodoxo era irremissivelmente condenado. Mas, tendo a razão humana se levantado contra esses bilhões de almas votadas às torturas eternas, quando delas não dependera ser esclarecidas na verdadeira fé; contra essas inúmeras crianças que morrem antes de adquirir a consciência de seus atos e que, nem por isso, são menos danadas, se a negligência ou a fé religiosa de seus pais as privou do batismo, a Igreja viu-se forçada, nesse ponto, a renunciar ao seu absolutismo. Hoje ela diz, ou, pelo menos, diz a maioria de seus teólogos, que essas crianças não são responsáveis pelas faltas dos pais; que a responsabilidade só começa no momento em que, tendo a possibilidade de se esclarecerem, o recusam e, por isto, estas crianças não são danadas por não haverem recebido o batismo; que o mesmo se dá com os selvagens e os idólatras de todas as seitas. Alguns vão mais longe: reconhecem que, pela prática das virtudes cristãs, isto é, da humildade e da caridade, pode-se ser salvo em todas as religiões, porque depende, também, da vontade de um hindu, de um judeu, de um muçulmano, de um protestante, quanto de um católico, viver cristãmente; que aquele que vive assim está na Igreja pelo espírito, mesmo que não o esteja pela forma. Não está aí o princípio: Fora da Igreja não há salvação, ampliado e transformado no Fora da caridade não há salvação? É precisamente o que ensina o Espiritismo e, contudo, é por isto que ele é declarado obra do demônio. Por que essas máximas seriam o sopro do demônio na boca dos espíritas e não na dos ministros da Igreja? Se a ortodoxia da fé está ameaçada, então não o é pelo Espiritismo, mas pela própria Igreja, porque ela sofre, mau grado seu, a pressão da opinião geral e porque, entre seus membros, encontram-se alguns que vêem as coisas de mais alto e nos quais a força da lógica leva a melhor a fé cega.

Talvez parecesse temerário dizer que a Igreja marcha ao encontro do Espiritismo; entretanto, é uma verdade que reconhecerão mais tarde. Avançando para o combater, nem por isso ela deixa, pouco a pouco, de lhe assimilar os princípios, mesmo sem o suspeitar.

Esta nova maneira de encarar a questão da salvação é grave. Posto acima da forma, o Espírito é um princípio eminentemente revolucionário na ortodoxia. Sendo reconhecida possível a salvação fora da Igreja, a eficácia do batismo é relativa, e não absoluta: torna-se um símbolo. Não trazendo a criança não batizada a pena da negligência nem da má vontade dos pais, em que se torna a pena incorrida por todo o gênero humano pela falta do primeiro homem? Em que se torna também o pecado original, tal qual o entende a Igreja?

Muitas vezes os maiores efeitos decorrem de pequenas causas. O direito de interpretação e de livre-exame, pueril na aparência, uma vez admitido na questão da materialidade das penas futuras, é um primeiro passo cujas conseqüências são incalculáveis, porque representa uma brecha na imutabilidade dogmática, e uma pedra arrancada arrasta outras. Forçoso é convir: a posição da Igreja é delicada. Todavia, só há um dos dois partidos a tomar: ficar estacionária, a despeito de tudo, ou ir para frente. Mas, então, não poderá escapar deste dilema: se se imobilizar de modo absoluto nos erros do passado, será infalivelmente superada, como já o é, pelo fluxo das idéias novas, depois isolada e, por fim, desmembrada, como o seria hoje, se tivesse persistido em expulsar do seu seio os que crêem no movimento da Terra, ou nos períodos geológicos da criação; se entrar na via da interpretação dos dogmas transforma-se e aí entra pelo simples fato de renunciar à materialidade das penas e à necessidade absoluta do batismo.

O perigo de uma transformação, aliás, está clara e energicamente formulado na seguinte passagem de um opúsculo publicado pelo padre Marin de Boylesve, da Companhia de Jesus, sob o título de O milagre e o diabo, em resposta à Revue des Deux-Mondes:

“Há, entre outras, uma questão que, para a religião, é de vida ou de morte: a questão do milagre. A do diabo não o é menos. Tirai o diabo, e o Cristianismo desaparece. Se o diabo não passar de um mito, a queda de Adão e o pecado original entrarão no domínio das fábulas. Por conseguinte a redenção, o batismo, a Igreja, o Cristianismo, numa palavra, não tem mais razão de ser. Por isso a Ciência não poupa esforços para apagar o milagre e suprimir o diabo.”

Desse modo, se a ciência descobrir uma lei da Natureza, que faça entrar nos fatos naturais um fato que é reputado miraculoso; se provar a anterioridade da raça humana e a multiplicidade de suas origens, todo o edifício se desmorona. Uma religião é muito frágil quando uma descoberta científica lhe é uma questão de vida e morte. Eis uma confissão desastrada. Por nossa conta, estamos longe de partilhar as apreensões do padre Boylesve em relação ao Cristianismo. Dizemos que o Cristianismo, tal qual saiu da boca de Jesus, mas apenas tal qual saiu, é invulnerável, porque é a lei de Deus.

A conclusão é esta: Nada de concessão, sob pena de morrer. Esquece o autor de examinar se há mais chances de viver na imobilidade. Nossa opinião é que há menos e que é preferível viver transformado a não viver de modo algum.

Num e noutro caso, a cisão é inevitável. Pode mesmo dizer-se que já existe; a unidade doutrinária está rompida, pois não há acordo perfeito no ensino; uns aprovam o que outros censuram; uns absolvem o que outros condenam. Assim, vêem-se fiéis indo de preferência àqueles cujas idéias mais lhe convêm. Dividindo-se os pastores, o rebanho igualmente se divide. Dessa divergência a uma separação, a distância não é grande; um passo a mais e os que estão na vanguarda serão tratados como heréticos pelos que ficaram na retaguarda. Ora, eis o cisma estabelecido; aí está o perigo da imobilidade.

A religião, ou melhor, todas as religiões sofrem, mau grado seu, a influência do movimento progressivo das idéias. Uma necessidade fatal as obriga a se manterem no nível do movimento ascensional, sob pena de soçobrarem. Assim, todas têm sido forçadas, de tempos em tempos, a fazer concessões à Ciência, a minimizar o sentido literal de certas crenças ante a evidência dos fatos. A que repudiasse as descobertas da Ciência e suas conseqüências, do ponto de vista religioso, mais cedo ou mais tarde perderia a sua autoridade e o seu crédito e aumentaria o número de incrédulos. Se uma religião qualquer pode ser comprometida pela Ciência, a culpa não é da Ciência, mas da religião fundada sobre dogmas absolutos, em contradição com as leis da Natureza, que são leis divinas. Repudiar a Ciência é, pois, repudiar as leis da Natureza e, por isto mesmo, renegar a obra de Deus, fazê-lo em nome da religião seria pôr Deus em contradição consigo mesmo e fazê-lo dizer: Estabeleci leis para reger o mundo; mas não acrediteis nessas leis.

O homem não tem sido capaz, nas diferentes épocas, de conhecer todas as leis da Natureza. A descoberta sucessiva dessas leis constitui o progresso; daí, para as religiões, a necessidade de pôr suas crenças e seus dogmas em harmonia com o progresso, sob pena de receberem o desmentido dos fatos constatados pela Ciência. Só com esta condição uma religião é invulnerável. Em nossa opinião, a religião deveria fazer mais do que se pôr a reboque do progresso, que apenas acompanha constrangida e forçada; deveria ser uma sentinela avançada, porque é honrar a Deus proclamar a grandeza e a sabedoria de suas leis.

A contradição que existe entre certas crenças religiosas e as leis naturais fez a maioria dos incrédulos, cujo número aumenta à medida que se populariza o conhecimento dessas leis. Se fosse impossível o acordo entre a Ciência e a religião, não haveria religião possível. Proclamamos altamente a possibilidade e a necessidade desse acordo, porque, em nosso entender, a Ciência e a religião são irmãs para a maior glória de Deus e devem completar-se entre si, em vez de se desmentirem reciprocamente. Elas se estenderão as mãos, quando a Ciência não vir na religião nada de incompatível com os fatos demonstrados e a religião não tiver que temer a demonstração dos fatos. O Espiritismo, pela revelação das leis que regem as relações entre o mundo visível e o mundo invisível, será o traço de união que lhes permitirá se olhem face a face, uma sem rir, a outra sem tremer. É pela concordância da fé e da razão que diariamente tantos incrédulos são reconduzidos a Deus.

AllanKardec.

Fonte: Revista Espírita jul/1864 – tradução de EvandroNoleto Bezerra – Editora: FEB