Saravá Sr. Rei do Laço

Saudações fraternos irmãos leitores.

Como a minha volta vagarosa à religião vem se intensificando, consequentemente a isso, a comunicação com os mentores vão retornando, e decidi escrever sobre esse grande mentor que atua na falange dos boiadeiros, não sei bem ao certo que posição ocupa em minha linha, mas confesso fugir um pouco do arquétipo dos boiadeiros conhecidos nos terreiros.

De fala divertida e seu sotaque nordestino, traz consigo uma capa branca e um chapéu branco, esse não se apresenta como um índio e sim como um nordestino sertanejo, trabalhador do sertão. Tem uma personalidade extremamente paternal, diferentemente de muitos boiadeiros, senão a grande maioria que eu conheci, gosta de conversar, gosta de contar piadas, de passar ensinamentos, diferentemente do outro boiadeiro que eu também trabalho, que se apresenta mais como um índio, extremamente sisudo, sério e de poucas palavras.

Diferentemente de outras casas, acredito que todas as linhas e falanges de Umbanda DEVEM ter o seu espaço de trabalho, muito presencio papeis coadjuvantes, irrelevantes ou até mesmo ausentes de boiadeiros, preto-velhos, marinheiros, erês, hoje em dia, as casas só trabalham com caboclos, baianos e exús, raramente vejo ciganos presentes em trabalhos umbandistas. Como parto da premissa que toda linha DEVE ter o seu papel de destaque e desempenhar a função que lhe é peculiar, o espaço para os boiadeiros é tão enfático e importante como qualquer outra linha, nesse preambulo, aparece o trabalho do Sr. Rei do Laço, grande amigo, trabalhador da roça, exímio manejador do gado, traz muitos ensinamentos do sertão, circunstâncias da época, sempre muito amigo e atencioso.

O objetivo principal dessa homenagem é talvez dizer a todos os filhos de Umbanda que boiadeiro não é só aquele mentor sisudo como o outro que eu trabalho, que dá o nome de Laje Grande, Sr. Rei do Laço é um sertanejo amigo, bem humorado, gosta de um xaxado, gosta de um forró, gosta e alegria durante seus trabalhos, bebe pouco e fuma menos ainda, também não é muito presente nos trabalhos, sendo mais presente o Sr. Laje Grande durante os trabalhos da linha, que também é um grande trabalhador, porém, pouco falador.

Boiadeiro também pode ser amigo, presente, protetor, conselheiro, e muitos se ENGANAM em achar que essa linha só possui espíritos do gênero masculino, importante salientar que existem as amazonas, mulheres que também trabalharam no campo, mesmo em sua gigantesca minoria pelo machismo predominante na época, existem sim, espíritos do gênero feminino nessa maravilhosa falange de trabalhadores rurais que são especialistas em limpeza pesada, em repudiar energias deletérias dentro dos terreiros.

Sr. Rei do Laço, o espírito do qual sirvo, me disse ter sido um capataz que habitou o centro-oeste brasileiro, porém no final de sua vida, regressou à sua Terra Natal no Nordeste, começou muito cedo a trabalhar no campo tendo a oportunidade de ser braço direito de seu contratante, no caso, o fazendeiro, foi do céu ao inferno inúmeras vezes, presenciou muitas guerras, muitas mortes e muitas alegrias. Não casou e nem teve filhos, preferindo adotar os próprios trabalhadores do qual foi encarregado e amigo. Tendo sua passagem também pelo Paraguai, teve sua última existência em nosso plano físico antes da independência do Brasil, no meio do século XIV.

Conheci também um boiadeiro chamado Zé Boiadeiro que habitou terras paraguaias, tanto é que sua fala é carregada de portunhol com uma voz rouca, também conversa razoavelmente, muitos achavam que ele vinha cruzado com linha de ciganos, o que não é uma verdade, visto que seu sotaque ocorreu devido a sua estada durante o sertão paraguaio que contribuiu e muito para nossa música sertaneja com as famosas guarânias, também conhecidas como modas de viola.

Talvez por ser uma linha que demanda mais dedicação do médium, por trazer uma vibração muito mais densa que a dos caboclos, a vibração da linha de boiadeiros é FORÇA, muitos médiuns tem dificuldade em trabalhar com esse tipo de vibração e por ser de mais difícil comunicação, seja o motivo de muitas casas abandonarem o trabalho dessa falange para consultas e passes, utilizando-os apenas como simples passagem para limpar o terreiro, o que é um ledo engano, todos nós somos capazes de trabalhar, basta ter dedicação e boa firmeza de cabeça.

Boiadeiro é Luz, Boiadeiro é Alegria, Boiadeiro é trabalho sério, e é uma linha que não deve ser desprezada, assim como tive a graça de trabalhar com um espírito dessa falange que foge totalmente do arquétipo tão “vendido” nos terreiros de ser entidades que não gostam de conversar, que não vem para consultas ou passes, está aí uma forma de contradizer mais uma vez a crença popular, tenho neles verdadeiros amigos e protetores. Quem nunca se arrepiou com aquele maravilhoso “ilado” dos boiadeiros? Aquele grito de guerra maravilhoso que arrepia cada milímetro do corpo, aquela vibração de FORÇA, de ENERGIA dentro dos trabalhos Umbandistas?

Sr. Rei do Laço, quando bebe, bebe qualquer coisa que tem dentro do terreiro, seja suco, água, batida, cerveja ou vinho, ele diz que o que importa é saber trabalhar com o que lhe é oferecido, que assim como é necessário possuir flexibilidade na vida, assim também é necessário saber “se virar com o que tem”.

Esse texto foi apenas para exprimir um pouco meu pensamento, dizer um pouco mais sobre essa linha que me apaixonei desde a primeira vez que vi, uma linha linda, porém, pouco trabalhada na Umbanda.

Getrua Sr. Boiadeiro.

Saravá Sr. Rei do Laço.

Que sua falange possa ser mais compreendida, estudada e requisitada nos terreiros de Umbanda.

Saravá toda a sua banda.

Neófito da Luz.

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